Relatório apresenta inspirações internacionais para políticas públicas voltadas à gestão escolar

Bianca Bibiano

João Paulo Pereira de Araújo, diretor da EE Doutor Pompílio Guimarães, em Piacatuba, distrito de Leopoldina (MG), costuma dizer que a comunidade escolar é um organismo complexo, que requer do gestor uma atuação democrática e um olhar integrado para muitas áreas distintas. Por isso mesmo, ele afirma que um dos grandes desafios do diretor é saber um pouco de tudo. “Ele tem que entender do departamento pessoal, da área financeira e da parte pedagógica. E vamos aprendendo com a prática e com a vivência. É uma noção que se constrói ao longo do tempo. Mas também é necessário estudar muito para assumir e desempenhar a função”, explica.

Formado em História, João Paulo deu aulas em diferentes escolas como professor contratado e posteriormente efetivo. Antes mesmo de pensar em se tornar diretor, percebeu a influência da gestão na rotina docente, o que o levou a buscar uma participação mais ativa em colegiados e grupos de professores. “A gestão impacta na sala de aula.”

Nessa busca para entender a educação de forma mais sistêmica, se sentiu encorajado a trabalhar com gestão escolar quando a então diretora da Pompílio anunciou que iria se aposentar. Participou de uma prova de certificação para gestores realizada pela rede pública estadual de Minas Gerais em 2019, foi habilitado para participar do processo de eleição pela comunidade escolar ao cargo de diretor e assim chegou ao cargo. 

No início da carreira como diretor, João Paulo participou de uma formação a distância oferecida pela rede pública de ensino mineira. Foram três meses de estudo, o que auxiliou o novo diretor especialmente com a parte teórica necessária para desempenhar a função. 

Diretor João Paulo Araújo
Para o diretor João Paulo Araújo,  formação é fundamental, já que um dos desafios do cargo é saber um pouco de tudo

O curso de indução ao cargo da secretaria mineira destaca a importância da administração pública para o desenvolvimento de gestores. As aulas foram estruturadas em três eixos: gestão administrativa, gestão pedagógica e gestão de recursos humanos. “Adquiri muitos conhecimentos e conheci referências para recorrer em momentos de dúvidas”, explica.  João Paulo faz parte de um grupo ainda pequeno: segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 86,4% dos diretores têm diploma universitário, mas somente um em cada dez cursou uma formação específica para atuar na gestão educacional com mais de 80 horas de duração. A carência de formação para os gestores foi uma das motivações para a realização do relatório “Desenvolvimento Profissional de Diretores Escolares: Análise das Experiências da África do Sul e do Canadá”, assinado pelo Dados para um Debate Democrático na Educação (D3e) em parceria com o Instituto Unibanco. 

Depois, por iniciativa própria, João Paulo buscou outros cursos de formação continuada para seguir estudando e lidar com as tarefas rotineiras e com os imprevistos que sempre surgem nas escolas. “Fiz cursos a distância do Itaú Social. Cursei dois módulos e depois ajudei a construir outros dois, apoiando a equipe formadora. A própria regional da rede mineira também oferece formações das quais já participei. Manter-se atualizado e em formação é essencial para ser um diretor cada vez melhor”, diz. 

O cenário brasileiro
Inúmeras iniciativas vêm sendo desenvolvidas no Brasil, tanto na esfera pública em nível federal, estadual e municipal quanto por organizações não governamentais e instituições de ensino superior para desenvolver ainda mais os conhecimentos dos gestores escolares. 

Uma das iniciativas pensadas foi o Progestão, lançado em 2001 pelos estados por meio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e o Programa Nacional Escola de Gestores, lançado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2006. Recentemente, também foi aprovada a Matriz Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar. A matriz prevê um conjunto de parâmetros para a atuação dos diretores e diretoras escolares, e poderá orientar as redes no que se refere aos processos de seleção e formação dos gestores.

Ainda não há no Brasil, porém, uma política pública de desenvolvimento dos diretores, que olhe de maneira integrada para a formação inicial, indução ao cargo e formação continuada, como acontece em outros países. É o que aponta o relatório “Desenvolvimento Profissional de Diretores Escolares: Análise das Experiências da África do Sul e do Canadá”. Assinado pelos pesquisadores Lara Simielli (pesquisadora associada ao D3e), Ariane Faria dos Santos e David Plank, o documento mostra que há uma necessidade de incluir esse tema como prioritário na agenda governamental nacional. Nessa perspectiva, para contribuir com o debate, o relatório também apresenta experiências internacionais, revelando possibilidades de atuação e ampliação do repertório no Brasil. “As informações podem embasar os gestores públicos e especialistas no desenho de uma política de formação para os diretores, contribuindo e trazendo inspirações para o grande acúmulo de conhecimento que já temos no Brasil sobre formação de diretores”, diz Lara.

Como funciona nos outros países? Veja na continuação da matéria aqui!

A pesquisadora Lara Simielli fala sobre o estudo no vídeo abaixo: